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Sirenes por Ramón

Sirenes por Ramón

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É maravilhoso como não ficam afónicas as sirenes de Kiev.

Por Ramón Gómez de la Serna publicado in Greguerías, Edición de Antonio A. Gómez Yebra, Editorial Castalia, 1994, página 152. (adaptada para os tempos de hoje, quando no original a cidade é Londres)

A greguería nasceu naquele dia de cepticismo e cansaço em que peguei em todos os ingredientes do meu laboratório, asco a asco, os misturei, e do seu precipitado, depuração e dissolução, surgiu a greguería – diz no Prefácio de 1960. Porque se chamam Greguerías?
Quando encontrei o género, dei-me conta que tinha que procurar uma palavra que não fosse artificial nem demasiado utilizada, para bem as baptizar.

Meti então a mão no grande saco das palavras e ao acaso, que deve ser o melhor padrinho dos achados, tirei uma bola…
Era greguería, ainda no singular; mas eu plantei essa bola e tive um jardim de greguerías. Fiquei com a palavra pela sua sonoridade, mas também pelo que esconde no mistério do seu sexo. Greguería, algaravia, gritaria confusa (…). O que gritam os seres confusamente, o que gritam as coisas.

Mas o que são as Greguerías? (…) Adágios? Refrões? Nã, nã. Nem uns nem outros: nem adágios, que são demasiado tristes e elegíacos; nem refrões que são coisa infecciosa.(…) São aforismos? (…)
Não. Também não é aforística a greguería; o aforismo é enfático e opinante. Não sou um aforista.

Fica-se então pela metáfora?
O material e o imaterial poder objectos de metáfora.
Todas as palavras e ase morrem na sua origem correcta e literal, e só atingem a glória quando passam a metáforas, porque as metáforas as tornam abstractas e embalsamadas.
A metáfora multiplica o mundo, não ligando à retórica que proíbe enlaçar as coisas só porque é importante para o fazer – Humor + metáfora = greguería.

Por Ramón Gómez de La Serna

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