Formiga trabalha, mas não tem utopia:
bicho pensante sonha! – ele gritou no meu ouvido.
fechou minha garganta, molhou minha retina.
Bicho diferente que sou, encolhi à sombra.
Pensei em meu país de samba, bossa, violas, sanfonas,
pandeiros e chão batido. Um uivo triste,
um choro cantado e essa inquietação latente, descalça.
Horizontou o chão: a luta é agora, a vontade é de agora.
A raiva surda dessa gente – branca.
O medo frio do medo – surdo.
O peso branco no peito – frio.
O berro surdo na boca – cala!
No pano vermelho, a letra alva. No amarelado do cartaz, letra velha.
E no céu, no asfalto, minha letra renascida, de novo cursiva.
Meu eco: Viva!
Aos operários, pobres, poetas,
mulheres, negros, gays e velhos, todos!
Todos.
O mundo tem de ser mais bonito.
(Ao professor Milton Santos)
Por Hila Rodrigues que integra o Coletivo O GRITO e vive em Belo Horizonte, Brasil.