AS sobras de luz prostradas ao longo do cais de Vila Nova de Gaia, sítio onde atracam barcos que por ali descansam e dormem tranquilos, para ao romper da aurora de cada dia, iniciarem as viagens que transportam os turistas que vão de visita aos maravilhosos cenários do Alto Douro Vinhateiro, reclamam a atenção devida à sua condição de suavidade crepuscular que acalma o espírito e cria visões de raríssima beleza no céu que tudo cobre. Os despojos do dia que findava, tinham despertado a atenção e o interesse das milhares de pessoas que passavam e outras mais que procuravam divertimento, ou simplesmente um restaurante ou taberna, onde pudessem consolar o estômago e tranquilamente saborear as mudanças de tom na paisagem.
Os restos dos dias podem justificar o perfume da luz coada dos instantes perfeitos. Porém, o melhor que os dias têm e nos prendem a eles desde o alvorecer, são os deslumbrantes nasceres do sol e os momentos em que já moribundo, agoniza no horizonte e inicia a montagem dos mais encantadores panoramas sob o manto azul matizado por uma paleta de cores surpreendentes que cobre o mar, o rio e as casas.
Há um lugar secreto e mágico, nunca publicitado, mas que recolhe a fina flor dos fazedores de sonhos, fingidores como todos os poetas são, todavia, cantores das futuras risonhas madrugadas onde os mortais merecem ser felizes. Nas vezes em que uma alma penada transpõe a soleira meio gasta do palácio onde habitam os mendigos das letras, um sussurro ecoa nas fantásticas divisões coloridas dos sonhos e um poeta ou uma poetisa avança do meio da noite para o lugar de média luz onde a poesia se declama até altas horas da madrugada, ao som de músicas de pianos, violinos e de outros instrumentos musicais debruçados sobre o clarão que a vida produz naqueles que caminham sobre o brilhantismo das coisas terrenas.
São as partes mais belas dos restos dos dias usufruídos até ao derradeiro estertor da lucidez do pensamento, o aditivo que falta nas agitadas vidas de alguns, depois do sol se pôr sobre o rio e sobre o mar na foz do rio Douro. Mas é também na cidade do Porto que nos olha da outra banda do magnifico caudal que sem pressa se dirige para o oceano, que a cultura se manifesta mais activamente nos bustos e outras formas esculturais admiráveis dispersas pelos muitos jardins da cidade, como se algum tresloucado artista, tivesse espalhado durante a ébria peregrinação da mente, estas pérolas ao ritmo certo da lindeza da sua salutar loucura.
No jardim de S. Lázaro, que compartilha um espaço de frondoso arvoredo com a Biblioteca Municipal do Porto, os olhos de um poeta, fixaram-se na magnifica obra de um escultor Avintense, já depois de terem divagado por outras esculturas também expostas sob as sombras de seculares árvores. Ficaram presos na “Ternura”, maravilhoso bronze que nos surge na ala esquerda do jardim e que é obra do insigne escultor Henrique Araújo Moreira, artista que viveu em perfeita harmonia com a natureza e se formou na insigne Academia Portuense de Belas-Artes, situada a poucos metros dali, na Av. Rodrigues de Freitas. Talvez por ser a mais significativamente apelativa de todas as esculturas patentes ao publico, ou porque a manifestação de afeição que tão carinhosamente representa, tocam com maior intensidade os corações dos seres humanos mais sensíveis a todas as formas artísticas das manifestações da expressão humana.
As mãos do poeta alisavam suavemente as delicadas configurações do bronze. Parecia em êxtase o fazedor de sentimentos; ora se baixava para se situar à altura da peça, ou se inclinava como se fosse o próprio autor deste milagre, a calcular as distâncias de cada ínfimo detalhe, ou a imaginar o que ele sentiu durante a criação e excussão dessa maravilha. Os dedos percorriam as feições das figuras representadas, como se o poeta fosse invisual e recorresse através deles, a uma leitura das coisas e do mundo muito semelhante à realidade, em busca da natural visão que os olhos lhe negavam, e que o sentido do tacto lhe transmitisse as imagens da perfeição das formas e o clamor colossal do grito de amor que elas revelavam.
Por fim, de lágrimas nos olhos, abraçou-se à estátua e foi naquele estreito, longo e emocionado abraço, a imagem sublime de toda a ternura que pode haver num mundo onde o homem procura a paz a todo o custo.
Um raio de luz solar infiltrou-se pelas ramarias das árvores circundantes que, no centro da cidade, formam um pequeno bosque. Num ápice, o jardim inundou-se de claridade e o poeta, a sorrir, fingia que era feliz.
Manuel Araújo da Cunha (Rio Mau, 1947) é autor de romances, crónicas, contos e poesia. Publicou: Contos do Douro; Douro Inteiro; Douro Lindo; A Ninfa do Douro; Palavras – Conversas com um Rio; Fado Falado – Crónicas do Facebook; Amanhecer; Barcos de Papel; Casa de Bonecas e Crónicas de outro Mundo.
Quanto mais depressa o tempo passa, mais vontado temos de deixar a nossa marca, para oquando os nossos vindouros tiverem vontade de ler e imaginar o que era trabalhar nas minas de carvão no Pej-ao e Pedorido. Tempos onde a barca atravessava o rio Douro em rio Mau logo pela manhã os trabalhadores que logo desembarcavam com sol chuva ou neve, corriam para tomar o elevador da mina para descer até aescavação a 60,100 e muitos mais metros. Levavam o gazometro para verem na cabeça, nunca sabiam quando era dia ou noite. A eletricidade ia chegando em más condições aos trabalhos, mas os
Maos mumentos era quando os invernos eram mais duros e as árvores se atiravam para as linhas de alta tensão e a luz faltava. A água entrava, pessoas iam subindo enquanto podiam. Alguns aleijavam se definitivamente.era triste nada se podia fazer. Imaginem ir de Penafiel para reparar as linhas, o tempo que levava, sem comunicações, sem auto estradas, sem barca pela noite, estrada longínqua.toda a noite sem luzes a reparar a avaria, sem se ver a um palmo e com medo de se cair a uma mina aberta. Pobre gente que a única comunicação estão chamamento pela voz própria. Tanta coisa havia para contar. Cá em cima era a vaga da cartelas para ser carregados os comboios do Portugal dos pequeninos para levar para o centro de cargas e descargas, seguem por último no teleférico para o depósito em Campanhã Portões para abastecimento das centrais elétricas. Por um lado tenho saudades de ver todo o movimento,sentir os briquetes de carvão que tanto gostava de ter 4 ou 5 kg e não sei onde arranjar pagando claro. Mais não digo,mas louvo aquela gente de trabalho hoje aqueles poucos vivos, mas deixando seus rebentos com tento para recordar o esforço de uma vida dos seus pais, avós e outros familiares. Com grandes abraços