TAMBÉM te poderei encontrar nos dias sem luz, quando o vento sopra louco sobre o rio, e o céu parece uma sinistra pintura negra, só comparada à sublime representada no quadro de Jean Laurent, intitulada, El Perro.
Na incessante busca de te ter, debruço-me sobre os incomensuráveis pilares do firmamento celeste e forço, com mãos que acariciam os cabelos das aves, a mudança que te fará perto, na perpétua rotação do planeta Terra, onde tu moras. Ou então, num louco vaguear pela exosfera, percorro os caminhos de longínquas Galáxias, onde cometas extintos, dormem exaustos o seu último sono, após períodos orbitais de centenas de milhares de anos. Tudo isso só para saber onde tu estás meu amor.
Quando eu quero, quando o desejo reina no meu peito, reinvento os épicos cenários onde o amor nasceu, crio o clímax, o instante luminoso da natividade, e moldo com esta única e minha forma de te querer, a escultura do tempo, até fazer de ti aparição.
Também te poderei encontrar no estrondo turbulento e aterrador da tempestade, na intensa e perturbante luz de um fulminante raio, nas ondas gigantescas que na tormenta se formam sobre as águas do rio e do mar ou até, se eu o quiser e o desejar muito, dentro do delicioso sabor de um beijo teu.
Manuel Araújo da Cunha (Rio Mau, 1947) é autor de romances, crónicas, contos e poesia. Publicou: Contos do Douro; Douro Inteiro; Douro Lindo; A Ninfa do Douro; Palavras – Conversas com um Rio; Fado Falado – Crónicas do Facebook; Amanhecer; Barcos de Papel; Casa de Bonecas e Crónicas de outro Mundo.