UM sol desmaiado de Outono vai pincelando as cores da minha terra.
Aqui, os traços são mesclados de tons nostálgicos que formam uma bela paleta de diversos amarelos e castanhos desbotados, a que se juntam os quentes laranja, o intenso vermelho romão e o roxo púrpura que revelam uma imensa sede de alegria. Só o azul do céu e do rio exclamam sorrisos, neste doce e nostálgico amanhecer.
Há uma espécie de neblina que se assemelha a ténue manto de algodão, disperso pelos recantos onde as águas dormem, mas são apenas os efeitos dos vapores do respirar dos rios.
Bandos de pássaros marinhos, que se lançam à procura de sustento em terra, entrelaçam as mãos no horizonte onde o meu olhar se perde, na contemplação destas maravilhas.
Outras aves ensaiam voos matinais muito perto das casas empoleiradas em colinas íngremes, habitações de humanos que são centenários e pacientes barcos, à espera de voar com as gaivotas.
Desperta a vida num acordar suave e tranquilo. Escutam-se as vozes da natureza, sinfonia doce, orquestração delicada que se sobrepõe aos ruídos produzidos pela brisa que desprende sem piedade as defuntas e coloridas folhagens das árvores.
No rio, um barco ao longe avança lentamente. Parece um Valboeiro na faina da pesca, ou uma canoa azul, com um jovem em treino para competições desportivas, ou talvez seja, verde da mesma cor dos sonhos de todas as crianças que, alegres, caminham na direcção da escola.
Que lindo que é este Presépio onde eu nasci!
Manuel Araújo da Cunha (Rio Mau, 1947) é autor de romances, crónicas, contos e poesia. Publicou: Contos do Douro; Douro Inteiro; Douro Lindo; A Ninfa do Douro; Palavras – Conversas com um Rio; Fado Falado – Crónicas do Facebook; Amanhecer; Barcos de Papel; Casa de Bonecas e Crónicas de outro Mundo.