NA FEIRA vende-se o gado, romãs, peles de raposa, enxadas. As gargantas, secas, pedem vinho: hipoteca-se, então, a alma. E nos olhos refulge antiquíssima valentia. O homem bebeu, muito – é dia de feira. Sem ousar transpor a porta da taberna, a mulher avisa-o: Figurão, lembra-te dos filhos que tens em casa. Os outros afixam no olhar: se fosse comigo! Sai, manso. Espanca a mulher. Os outros mastigam os gritos. Pedem nova rodada, em tigelas lavadas.
Texto de Francisco Duarte Mangas publicado originalmente in O homem do saco de cabedal, Campo das Letras, maio de 2000, página 23, com ilustração de Inma Doval.