FREDERICO Martins Mendes, de 77 anos, não resistiu a problemas respiratórios. Morreu, esta segunda-feira, ao nascer do dia, no hospital de Santo António, no Porto. Calou-se a voz roufenha, que não tinha dificuldades em impor-se, e que durante 12 anos comandou os destinos do JN. O corpo de Frederico Martins Mendes vai estar na capela mortuária da Igreja do Foco, na Paróquia da Boavista para ser velado, entre as 18 e as 22 horas desta segunda-feira, e não a partir das 15 horas, como inicialmente previsto. O funeral, com missa de corpo presente, realiza-se amanhã, terça-feira, às 14.30 horas, na mesma igreja, no Porto, confirmou ao JN uma fonte da família do antigo diretor desta casa. O corpo seguirá depois para o Cemitério da Lapa, onde será cremado.
Jornalista, professor de jornalismo no curso de Ciências da Comunicação da Universidade do Porto, Frederico Martins Mendes dedicou mais de 50 anos de vida ao Jornal de Notícias, 12 dos quais como diretor, em cerca de 30 com funções de chefia.
Frederico Martins Mendes fica associado a um período de afirmação nacional do Jornal de Notícias, a partir dos anos de 1980. Foi, também, o grande impulsionador da informatização do JN e da criação do Online, que nasceu oficialmente a 26 de julho 1995.
Atento ao futuro, Frederico Martins Mendes foi responsável pela mudança no JN: da redução do tamanho do jornal, de “broadsheet” para algo aproximado ao atual, à introdução da cor no Jornal de Notícias e à renovação da redação.
Nascido no Porto, a 4 de agosto de 1938 (há 77 anos), tinha 15 anos quando entrou pela primeira vez na redação do JN, então na Avenida dos Aliados, no Porto. Começou como colaborador desportivo, ao lado o pai, António Martins Mendes, em 1953. Dez anos depois, a 1 de novembro de 1963, entrou para os quadros do JN. Foi dos primeiros a sair da “vala comum”, a erguer-se de mero colaborador do desporto a jornalista por direito próprio dos quadros do JN, algo que, na altura, era praticamente impossível.
Em 1975, foi promovido a subchefe de redação, dando o pontapé de saída numa carreira na chefia que o levaria a diretor, cargo para que foi nomeado em 1993.
Pelo meio, em 23 anos junto da liderança que guindou o JN a melhor e maior jornal de Portugal, Frederico Martins Mendes foi chefe de redação durante nove anos, de 1978 a 1987, ano em que passou a diretor adjunto. Reformou-se a 10 de janeiro de 2005. Ao todo, trabalhou 52 anos no JN.
Engenheiro Químico de formação, Frederico Martins Mendes, jornalista por vocação, fez o curso aos soluços, dividido entre a Universidade e a redação do JN. Nunca chegou a exercer, limitando-se a experiências com palavras, a alquimias com títulos.
“Dão, Dão, queijo, queijo”, sobre o desejo de Viseu e Guarda formarem uma região demarcada, “De noite é que são elas”, a propósito dos travéstis na noite do Porto, ou “Chora futebol, chora que o mestre morreu”, a propósito da morte do treinador José Maria Pedroto são alguns dos exemplos da capacidade criativa de Frederico Martins Mendes, mestre em dizer muito com poucas palavras.
Na redação e na Escola Superior de Jornalismo, depois integrada na Universidade do Porto, “Fred”, como era tratado pelos mais próximos, foi professor de muitos jornalistas dos quadros atuais do JN e de vários órgãos de comunicação nacionais. Para tantos, é, ainda hoje, “o professor”.
Criado numa família de jornalistas, era filho de um colaborador desportivo do JN, António Martins Mendes, e trabalhou no “Jornal de Notícias” com os irmãos Manuel Luís Mendes e Fernando Mendes, falecido em novembro de 2009, com 60 anos.
Casado com Maria Isabel Lima, Frederico Martins Mendes era pai de cinco filhos.
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Publicado in Jornal de Notícias