– Quem consegue abrir o livro escolar nesta manhã de primavera?
por Matsuo Bashô in O eremita viajante [haikus – obra completa], organização e versão portuguesa de Joaquim M. Palma, Assírio & Alvim, 2016, página 73.
NOTA DE JOAQUIM M. PALMA: O livro escolar a que se refere o poema tinha como título Teikin Ôrai, de autor anónimo e escrito no século XIV. Este haiku termina com o verso kesa no haru («uma manhã de primavera»), que, poeticamente, também significa «um novo ano». (página 308)
HÁ o papel-moeda, o papel-bíblia, o papel-couché, o papel-higiénico, o papel mata-borrão, o papel reciclado e outros papéis que nos dispensamos de enumerar. Todos eles assim designados de acordo com a sua função ou características. Contudo nunca se deu a palavra ao papel para dizer de sua justiça o que pensa daquelas atribuições ou qualidades ou até saber do seu estado de alma. Para sermos sinceros, o papel do papel foi sempre muito passivo, absolutamente omissivo. Chegou por isso o dia de darmos voz ao papel. Tendo em conta a idade do papel, teremos muito a aprender com a sua experiência. E que dizer dos seus sonhos? Não podemos deixar que aqueles fiquem no papel. É urgente concretizá-los. Que fale o papel!
Se sabe ou desconfia o que o PAPEL-PENSANTE pensa sobre certos objetos ou sobre certas situações envie-nos esse pensamento para geral.correiodoporto@gmail.com.
Lembramos que o PAPEL-PENSANTE, por regra, pensa curto, é muito objetivo e, de quando em vez, tem graça.