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PAPEL-PENSANTE por PML

PAPEL-PENSANTE por PML

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Afia: Sem ti corro o risco de ser arranhado.

Álbum de família: Sou o presente do passado.

Andante (I): Viajo no tempo.

Andante (II): Viajo com o tempo contado.

Avião de papel: Que bom! Já posso voar até ao Céu! O único mal de ir para o Céu é que dali o céu não se vê. (PML e Augusto Monterroso)

Balão S. João: O brilho do teu olhar inflama o meu coração.

Bilhete de comboio: Viajar dá-me pica.

Bola de papel amarrotado: Estava redondamente enganado.

Boletim de voto: Sou o menu da democracia.

Borracha: Tiras-me o sarro.

Bula: Desdobro-me pela tua saúde.

Calendário (I): Estou sempre em dia.

Calendário (II): Sou o mapa dos dias.

Calendário (III): Por esta ordem, os dias não se perdem.

Candeeiro de mesa-de-cabeceira: De tanto ler ficou iluminado.

Capa de argolas: São como algemas para nos prender.

Cartão de visita: Estamos em com tacto.

Dicionário: Sou a devassa em papel.

Dinheiro (I): Todos contam comigo.

Dinheiro (II): As más companhias levaram o juiz a declarar-me perdido a favor do Estado.

Dinheiro (III): Às vezes sinto-me usado.

Fita-cola: Acabaram-se as fitas!

Folhear: O mesmo que lançar as folhas ao ar.

Fósforo: És um perigo quando perdes a cabeça.

Guilhotina: Aparas-me os excessos.

Impressora: Fazes-me impressão.

Letra de câmbio: Às vezes é só letra.

Máquina de escrever: As tuas letras marcam-me.

Marca d’água: Para ficar à tona do anonimato.

Marcador: Marco a tua história.

Mica de plástico: O teu zelo sufoca-me.

Multibanco: Fala barato? Depende do crédito do interlocutor.

Pacote de açúcar: A tua gulosice dissolve-me o coração.

Papel amarrotado: Arrependeu-se ao comprido.

Papel de embrulho: Não sou esquisito. Qualquer coisa me preenche.

Papel de parede: Decorei o teu interior.

Papel metalizado (I): Antes arder que enferrujar.

Papel metalizado (II): Se apanho ar fico oxidado.

Papel quadriculado: É tempo de fazer contas à vida.

Papel reciclado: Sinto-me ressuscitado!

Parquímetro: Senhor muito aprumado e sisudo. Só fala quando lhe dão troco.

Pionés: Contigo não caio no esquecimento.

Pisa-papéis: A minha imobilidade não te pesa na consciência?

Planta topográfica: Comigo não perdes o pé.

Postal: Da minha janela lê-se saudade.

Saca agrafos: As tuas dentadas libertam-me.

Selo branco: Dás-me relevo.

Senha de espera: Se me perdes. Era uma vez!

Sol: Não olhes tanto para mim que fico corado.

Tesoura: És cruel. E quanto mais romba mais dores me causas.

HÁ o papel-moeda, o papel-bíblia, o papel-couché, o papel-higiénico, o papel mata-borrão, o papel reciclado e outros papéis que nos dispensamos de enumerar. Todos eles assim designados de acordo com a sua função ou características. Contudo nunca se deu a palavra ao papel para dizer de sua justiça o que pensa daquelas atribuições ou qualidades ou até saber do seu estado de alma. Para sermos sinceros, o papel do papel foi sempre muito passivo, absolutamente omissivo. Chegou por isso a hora de darmos voz ao papel. Tendo em conta a idade do papel, teremos muito a aprender com a sua experiência. E que dizer dos seus sonhos? Não podemos deixar que aqueles fiquem no papel. É urgente concretizá-los. Que fale o papel!

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