Afia: Sem ti corro o risco de ser arranhado.
Álbum de família: Sou o presente do passado.
Andante (II): Viajo com o tempo contado.
Balão S. João: O brilho do teu olhar inflama o meu coração.
Bilhete de comboio: Viajar dá-me pica.
Bola de papel amarrotado: Estava redondamente enganado.
Boletim de voto: Sou o menu da democracia.
Bula: Desdobro-me pela tua saúde.
Calendário (I): Estou sempre em dia.
Calendário (II): Sou o mapa dos dias.
Calendário (III): Por esta ordem, os dias não se perdem.
Candeeiro de mesa-de-cabeceira: De tanto ler ficou iluminado.
Capa de argolas: São como algemas para nos prender.
Cartão de visita: Estamos em com tacto.
Dicionário: Sou a devassa em papel.
Dinheiro (I): Todos contam comigo.
Dinheiro (II): As más companhias levaram o juiz a declarar-me perdido a favor do Estado.
Dinheiro (III): Às vezes sinto-me usado.
Fita-cola: Acabaram-se as fitas!
Folhear: O mesmo que lançar as folhas ao ar.
Fósforo: És um perigo quando perdes a cabeça.
Guilhotina: Aparas-me os excessos.
Impressora: O teu trabalho faz-me impressão.
Letra de câmbio: Às vezes é só letra.
Máquina de escrever: As tuas letras marcam-me.
Marca d’água: Para ficar à tona do anonimato.
Marcador: Marco a tua história.
Mica de plástico: O teu zelo sufoca-me.
Multibanco: Fala barato? Depende do crédito do interlocutor.
Pacote de açúcar: A tua gulosice dissolve-me o coração.
Papel amarrotado: Arrependeu-se ao comprido.
Papel de embrulho: Não sou esquisito. Qualquer coisa me preenche.
Papel de parede: Decorei o teu interior.
Papel metalizado (I): Antes arder que enferrujar.
Papel metalizado (II): Se apanho ar fico oxidado.
Papel quadriculado: É tempo de fazer contas à vida.
Papel reciclado: Sinto-me ressuscitado!
Parquímetro: Senhor muito aprumado e sisudo. Só fala quando lhe dão troco.
Pionés: Contigo não caio no esquecimento.
Pisa-papéis: A minha imobilidade não te pesa na consciência?
Planta topográfica: Comigo não perdes o pé.
Postal: Da minha janela lê-se saudade.
Saca agrafos: As tuas dentadas libertam-me.
Senha de espera: Se me perdes. Era uma vez!
Sol: Não olhes tanto para mim que fico corado.
Tesoura: És cruel. E quanto mais romba mais dores me causas.
HÁ o papel-moeda, o papel-bíblia, o papel-couché, o papel-higiénico, o papel mata-borrão, o papel reciclado e outros papéis que nos dispensamos de enumerar. Todos eles assim designados de acordo com a sua função ou características. Contudo nunca se deu a palavra ao papel para dizer de sua justiça o que pensa daquelas atribuições ou qualidades ou até saber do seu estado de alma. Para sermos sinceros, o papel do papel foi sempre muito passivo, absolutamente omissivo. Chegou por isso a hora de darmos voz ao papel. Tendo em conta a idade do papel, teremos muito a aprender com a sua experiência. E que dizer dos seus sonhos? Não podemos deixar que aqueles fiquem no papel. É urgente concretizá-los. Que fale o papel!