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Aureliano Lima (1916-1984)

Aureliano Lima (1916-1984)

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5.
Sou a tua vigília: um cílio
De memória que segue a tua sombra.

Sou o teu perfil: talvez o vale
E o vento; a haste que pergunta:

“Onde vais? Que ficção exploras?”
Tu respondes:

“Sou a flora; a que busca
Na trava a limpidez da água.
O trevo de quatro-folhas
Que se beija na terra.”

4.
O Homem canta. Melodia
que diz a sílaba na
garganta. E pernoita
na cibernética do peito.
Nua como um seixo. E
desafia o magma da rua.

3.
É plural a água: a chuva
é dúbia (ou já pluma) en
quanto a cinza é póstuma.
Dual é esta bruma,
tangível na memória.
Polivalente a chuva em
Fria arquitectura – na fria
espora de alva… Se é
mágoa e ténue a luz
coada. Ou asa. Ou vaso
em terra extenuada,
enquanto a noite
espera (e dorme) em
linho de alva.

2.
Onde me alongo e ergo. Cesto
meu e minha cereja. Minha
redonda cadeira. Longos são
os dias quando estremeço. Amor
amado: quando te toco e beijo. 

1.
Vê o que podes haurir
sem gesto, sem mácula,
em silêncio. Não me fales
do tempo. O tempo é o lugar
onde a memória cresce. 

Aureliano Lima nasceu em Carregal do Sal, em 1916, e faleceu em Vila Nova de Gaia, em 1984. Estudou m Oliveira do Hospital e andou por Coimbra até se radicar em Gaia em 1959. Além de escultor, colaborou em jornais e revistas literárias e não deixou de publicar regularmente os seus livros de poemas. As suas obras principais são: Rio Subjacente, (1963); Os Círculos e os Sinais, (1974); Tempo de Dentro-Fora, (1975); O Homem Cinzento ou a Alquimia dos Números, (Prefácio de Fernando Guimarães, narrativa, 1975); Cântico e Eucalipto, (1978); Espelhos Paralelos, (1983); Ele e os Outros, (1983); Os Rios e os Lugares, (antologia poética organizada e prefaciada por Serafim Ferreira, 1985); O Leito e a Casa, (1986).

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