12.
PORTO CÔVO
Roendo uma laranja na falésia,
Olhando o mundo azul à minha frente.
Ouvindo um rouxinol nas redondezas,
No calmo improviso do poente.
Em baixo fogos trémulos nas tendas.
Ao largo as águas brilham como prata.
E a brisa vai contando velhas lendas,
De portos e baías de piratas.
Havia um pessegueiro na ilha,
Plantado por um Vizir de Odemira.
Que dizem que por amor se matou novo,
Aqui, no lugar de Porto Côvo.
A lua já desceu sobre esta paz,
E brilha sobre todo este luzeiro.
Á volta toda a vida se compraz,
Enquanto um sargo assa no brazeiro.
Ao longe a cidadela de um navio,
Acende-se no mar como um desejo.
Por trás de mim o bafo do destino,
Devolve-me à lembrança do Alentejo.
Havia um pessegueiro na ilha,
Plantado por um Vizir de Odemira.
Que dizem que por amor se matou novo,
Aqui, no lugar de Porto Côvo.
Roendo uma laranja na falésia,
Olhando à minha frente o azul escuro.
Podia ser um peixe na maré,
Nadando sem passado nem futuro.
Havia um pessegueiro na ilha,
Plantado por um Vizir de Odemira.
Que dizem que por amor se matou novo,
Aqui, no lugar de Porto Côvo.
11.
Tenho à janela
uma velha cornucópia
cheia de alfazema
e orquídeas da Etiópia →
10.
tudo aquilo que queres ouvir
já to disseram com muito mais sal
é tempo de poderes descobrir
quanto é que o silêncio vale →
9.
Ai, Senhor das Furnas,
Que escuro vai dentro de nós. →
8.
A tua pequena dor
Quase nem sequer te dói →
7.
Quem vem e atravessa o rio,
junto à Serra do Pilar,
vê um velho casario
que se estende até ao mar. →
6.
Recebi o teu bilhete
para ir ter ao jardim →
5.
Murmura a maré no casco
Os pescadores conversam →
4.
JURA
Jura que não vais ter uma aventura
Dessas que acontecem numa altura →
3.
DO MEU VAGAR
Já não há mais o vagar
de quando se comia sentado
e devagar se caminhava
até chegar a qualquer lado
agora vai toda a gente
sempre de mão na buzina
sempre na linha da frente
a tremer de adrenalina
Do meu vagar não traço rotas
não tenho trilho que me prenda
não tiro dados nem notas
não encho uma linha de agenda
do meu vagar não chego a Meca
não faço nada num só dia
não corto a fita da meta
não vejo Roma nem Pavia
Do meu vagar
sei que nunca hei-de ir longe
vou aonde for preciso
vou indo do meu vagar
em busca do tempo perdido
e se um dia o encontrar
o longe não faz sentido
Do meu vagar há um nicho
um pico de ilha insubmersa
onde há lugar para o capricho
que dá pelo nome de conversa
do meu vagar a paisagem
ainda tem beleza em bruto
e vale mais uma palavra
que mil imagens por minuto →
2.
NÃO HÁ ESTRELAS NO CÉU
Não há estrelas no céu a dourar o meu caminho,
Por mais amigos que tenha sinto-me sempre sozinho. →
1.
SEI DE UMA CAMPONESA
Sei de uma camponesa,
Sem campo, sem quintal, →
Carlos Alberto Gomes Monteiro (Cedofeita, Porto; 14 de Junho de 1955) é um letrista português. Licenciou-se em filosofia na Universidade do Porto e tornou-se notado com a edição do álbum “Ar de Rock” de Rui Veloso, para o qual deu a sua contribuição como letrista. Além da ligação à carreira de Rui Veloso, escreveu letras para outros nomes como os Clã, Trovante, Salada de Frutas ou Jafumega. Carlos Tê é igualmente cantor, como demonstrou no álbum “A Voz e a Guitarra”. Em tempos chegou a referir que desejava dar asas a um projecto musical denominado Pepsonautas mas que não chegou a ser concretizado. Foi um dos conspiradores do projecto Cabeças No Ar que veio a dar origem a um musical. Carlos Tê escreveu para o jornal “Público” uma série de crónicas, que marcaram a sua presença todos os meses, entre 1991 e 1994, no caderno Local do referido jornal. Nos últimos anos tem sido uma presença assídua como cronista no jornal Expresso. Colaborou em revistas de poesia (Avatar, Quebra-Noz, Pé-de-Cabra, editadas no Porto entre 1978 e 1981). Tem um romance publicado (O Voo Melancólico do Melro) e três contos (Contos Supranumerários) (edição de Abril de 2001). Portista ferrenho, foi um dos Moderados de Paranhos que em 2003 lançaram o single “Um Pouco Mais de Azul”.
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