Voz pisada como o vinho
De onde bebo
A perda dos sentidos
Silêncio tão pisado que não verte
O verbo
Silêncio encruzilhado
Na voz do homem calado no caminho
in Poesia, edições quasi, novembro 2003, página 268
13.
EXPLICAÇÃO DOS CÂNTAROS
Puseram-nos rodilhas à cabeça
Um modo antigo de nos virem coroar
in Poesia, edições quasi, novembro 2003, página 95
12.
Onde há uma estrela há um homem nocturno
Um homem hemisférico que pensa na luz. →
12.
As mulheres aspiram a casa para dentro dos pulmões →
11.
Fosses tu uma ave ou uma folha
E o Outono te viria desprender →10.
Sol
Que quando és nocturno ando
Com a noite em minhas mãos para ter luz. →9.
O umbral anúncio →8.
A teia é movimento que persiste
Em sua paciência. →7.
Como doem as árvores
Quando vem a Primavera
E os amigos que ainda estão de pé →
6.
Termos das árvores
A incomparável paciência de procurar o alto →5.
Mas basta-me um quadrado de sossego
Para a distância absoluta →4.
Homens que são como lugares mal situados
Homens que são como casas saqueadas →3.
PÓRTICO
Com os meus amigos aprendi que o que dói às aves
Não é o serem atingidas, mas que,
Uma vez atingidas,
O caçador não repare na sua queda. →2.
Depois das queimadas as chuvas
Fazem as plantas vir à tona
Labaredas vegetais e vulcânicas
Verdes como o fogo
Rapidamente descem em crateras concisas
E seiva
E derramam o perfume como lava →1.
Antes da noite
Brunirás os montes
Bordarás a chuva
Tecerás o tempo
Com as tuas lágrimas
Lavarás o vento →
Daniel Augusto da Cunha Faria nasceu em Baltar, Paredes, a 10 de Abril de 1971. Frequentou o curso de Teologia na Universidade Católica Portuguesa – Porto, tendo defendido a tese de licenciatura em 1996. No Seminário e na Faculdade de Teologia criou gosto por entender a poesia e dialogar com a expressão contemporânea. Licenciou-se em Estudos Portugueses na faculdade de Letras da Universidade do Porto. Durante esse período (1994 – 1998) a opção monástica criava solidez. Viveu na Paróquia Senhora da Conceição – Porto, no período de frequência da Licenciatura em Estudos Portuguesa e, durante vários anos, esteve ligado à paróquia de Santa Marinha de Fornos – Marco de Canaveses. Aí demonstrou o seu enorme potencial de sensibilidade criativa encenando, com poucos recursos, As Artimanhas de Scapan e o Auto da Barca do Inferno. Enquanto estudante de Teologia publicou as obras Oxálida e A Casa dos Ceifeiros. Com o abraço da Fundação Manuel Leão publicou Explicação das árvores e de outros animais; Homens que são como lugares mal situados; Dos Líquidos. Faleceu a 9 de Junho de 1999 quando estava prestes a concluir o noviciado no Mosteiro Beneditino de Singeverga.
Sito in http://www.casadaniel.pt.to/
Outras moradas: http://danielfaria.no.sapo.pt/
Foto de Augusto Baptista