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José Rui Teixeira (1974)

José Rui Teixeira (1974)

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7.
trago dentro de mim um mar imenso
feito de vagas tristes
e sonhos vagos

o horizonte é uma manhã
que eu quis minha para ser eu
e para porto de abrigo escolhi uma tarde
que soubesses chorar a morte do sol

6.
Perdemos aqui um lugar para o silêncio.
Veio a morte e havia ainda palavras
e o dizer obscuro dos augúrios, escorços,
pequenas infâmias.
Olhaste-me com palavras.
E eu pensei que a mecânica do absurdo
cairia como o alfabeto morto
de uma natureza morta:
a tua morte, a minha morte.
Só as palavras sobrevivem
quando perdemos um lugar
para o silêncio. 

in “Ângulo morto” [2019]

5.
O que dirá de mim o meu deus,
pergunto, se eu guardar do pobre
apenas a melancolia.

O que dirá de mim, pergunto,
se eu pendurar a lira
no bengaleiro em flor
deste declínio. 

4.
Houve um tempo em que eu desconhecia o medo.
Deus ainda amava os filhos dos homens
quando, anos mais tarde, parou de chover.
Caiu-te um livro das mãos como um presságio. 

3.
Amo-te como buganvílias caídas ao redor
das casas ou o luar branco dos caminhos,
ou a substância audível da tua respiração. 

2.
Pousado no arcaz o fogo, como nas mãos de Caim,
o âmbar, os pântanos, os plátanos, um planisfério 

1.
Os filhos são insectos de alabastro
nas noites de insónia das mães 

7 perguntas a José Rui Teixeira

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