10.
POESIA
És o nariz que me prolonga a testa.
O mundo não dá sombra além da tua
E quando nos meus olhos tudo é festa
Dormes comigo inanimada e nua.
Então, cinjo-te a mim, álgida, inteira,
Liberta de pecados.
E dispo-te em segredo…
Ó mensageira
Dos beijos ignorados!
in Pedro, Cabanas 1975, página 123.
9.
GALGOS
Quando são mansos, parecem lírios.
Parecem rosas quando são bravos.
A igreja é bosque, cheio de círios,
Gótica igreja, cheia de cravos.
Leves, tão leves! Leves, esguios…
Não sujam praias; não lembram gente.
E, reflectidos nas águas dos rios,
Dir-se-iam asas… E a água não mente!
Deram as rússias aos portugueses!
Cães de fidalgo.
Cães de solar.
Ó meus irmãos, parai, por vezes,
Parai a vê-los, que vão findar!
8.
CAMÉLIAS
O perfume delas
É, talvez, a cor…
in Pedro, Cabanas 1975, página 89.
7.
Lembro o seu vulto, esguio como espectro,
Naquela esquina, pálido, encostado! →
6.
Povo que lavas no rio,
Que vais às feiras e à tenda,
Que talhas com teu machado
As tábuas do meu caixão →
5.
Sabe tão bem poisar, aqui, a enxada
Lavar as mãos onde o suor correu,
Dizendo, ao ver, na casa abençoada,
Os filhos e a mulher:
– Tudo isto é meu! →
4.
Sei de um rio, sei de um rio
Em que as únicas estrelas nele sempre debruçadas
São as luzes da cidade
Sei de um rio, sei de um rio
Onde a própria mentira tem o sabor da verdade
Sei de um rio…
Meu amor dá-me os teus lábios, dá-me os lábios desse rio
Que nasceu na minha sede, mas o sonho continua
E a minha boca até quando ao separar-se da tua
Vai repetindo e lembrando
Sei de um rio, sei de um rio
Meu amor dá-me os teus lábios, dá-me os lábios desse rio
Que nasceu na minha sede, mas o sonho continua
E a minha boca até quando ao separar-se da tua
Vai repetindo e lembrando
Sei de um rio, sei de um rio
Sei de um rio, até quando →
3.
E o rio passa torturado, aflito,
Sulcando sempre o seu perfil nas almas!…→
2.
Deviam chamar Pedro, em vez de Porto,
Ao burgo, se é tal qual do meu tamanho! →
1.
Porque é que Adeus me disseste
Ontem e não noutro dia, →
Poeta português, de nome completo Pedro da Cunha Pimentel Homem de Mello, nascido a 6 de setembro de 1904, no Porto, e falecido a 5 de março de 1984, na mesma cidade, pertencente à geração dos poetas presencistas. Formado em Direito pela Universidade de Coimbra, foi professor de Português e de Literatura Portuguesa no ensino técnico. É autor de uma obra poética extensa (cerca de 25 volumes de poesia) que surpreende pela coerência de características métricas, temáticas e retóricas mantidas quase inalteráveis de livro para livro. Integrando uma poesia de cunho tradicional, fundada na regularidade rítmica e versificatória, tematiza frequentemente a revolta, o desafio da lei ou da repressão moral, a mitificação do Povo, “numa abordagem complexa que conjuga certo aristocratismo folclórico com a construção de algumas das suas imagens-símbolo (cf. LOPES, Óscar – Entre Fialho e Nemésio II, Lisboa, INCM, 1987, pp. 808-817). Para Joaquim Manuel Magalhães, os poemas de Pedro Homem de Mello bifurcam-se em dois grandes grupos: “Um, em que certa realidade da paisagem humana e natural do norte minhoto ao centro litoral irrompe; outro, em que a densidade conflituosa das paixões se prende numa manifestação lírica quase confessional” (cf. MAGALHÃES, Joaquim Manuel – Os Dois Crepúsculos, Lisboa, A Regra do Jogo, 1981, pp.39-40). Ao mesmo tempo, a sua poesia, de raiz popular, deixa revelar uma faceta importante de escritor apaixonado pelo folclore português, área de interesse para a qual escreveu vários ensaios e desenvolveu programas de rádio e de televisão.
Foi distinguido com o Prémio Antero de Quental (1940) e o Prémio Nacional de Poesia (1973). A sua obra poética encontra-se compilada em Poesias Escolhidas (1983). Como estudioso do folclore nacional, escreveu A Poesia na Dança e nos Cantares do Povo Português (1941) e Danças de Portugal (s/d).
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