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Ramiro Torres (1973)

Ramiro Torres (1973)

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TUNDRA

Para Carlos.

Caminhamos através
Da língua enchida
De sangue branco,
Abatendo a noite

Com o nosso corpo
Mergulhado nas
Vísceras do poema:
Transportamo-nos
Ao exílio das formas,
Ilimitável o uivo
Que abre a carne
E inaugura a escrita,
Abandonado o saber
Ao passo iniciático
Do amor incandescente.

2.
TROPICAL

Para Gonçalo e Maria.

Abraçamos a incandescência
de todas as formas transidas
na música invisível do uno,
lembramos o início do mundo
e a irrigação do medo nos olhos,
o espelho transparente extraviado
entre a musculatura da alma e
o seu brilho oculto nos muros,
enquanto a realidade desce até
a garganta do oceano e se dessangra
como luz líquida entre as mãos:
a lava mana desde as vértebras
até a pele abraçada dos corpos
onde dança um fulgor reabitado,
a terra convulsa que nos inebria. 

1.
MUNDO EXULTANTE

Para Nando e Beatriz.

No centro da matéria
arde a terra equatorial
onde o infinito cresce
e nos arrasta ao fogo
mais puro do silêncio:
amamo-nos na vertigem
da madeira grávida de sonho,
arrasa-nos a pureza deste
assombro expandido até
o meio-dia do conhecimento,
com o sangue branquíssimo
do outro lado da vida a se
derramar sobre o nosso ser. 

Ramiro Torres, nascido na Corunha em 1973, leva procurando desde essa data estar aberto à fascinação da realidade, sob as múltiplas formas em que se manifesta, sendo a poesia uma das ferramentas que conhece e experimenta para isso, embora não seja a única, nem sequer a mais importante, no fundo. Publicou Esplendor Arcano em 2012, e participou em diversas obras conjuntas. Na sua intimidade conta que só acredita numa energia estranha, densa e levíssima à vez, que está presente em todo o que se pode conhecer, mas escapa a qualquer definição última, por fortuna. Algo que acontece e estoura ao tempo, talvez desde sempre e para sempre…

 

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