11.
CAIS
Quando um barco tem pés para nadar
as ondas só vêm chatear
Lá do fundo do mar imundo imenso sais
Oh! Neptuno e as tuas sereias sensuais
e vendes o cais
Quando o barco se está para afundar
E só esses ratos não o quiserem abandonar
Quando a maré negra chegar
E não houver ninguém para o crude limpar
Se o pescado morre ao lado
se ainda se ama o mar salgado
então é ver no cinema se ainda há
lodo no cais
se o mercado impera e somos
todos iguais
muito cuidado quando escorregas
sempre cais
se o mercado emperra
e vais sempre longe demais demais
atenção cuidado voltas ao cais
10.
HOMENS TEMPORARIAMENTE SÓS
Prometo não falar de amor de gostar e sentir
Portanto não vou rimar com dor um mentir
Joga-se pelo prazer de jogar e até perder
Invadem-se espaços trocam-se beijos sem escolher
Homens temporariamente sós
Que cabeças no ar
Não retratos de solidão interior
Não há qualquer tragédia
Mas um vinho a beber
Partidas regressos conquistas a fazer
Tudo anotado numa memória que quer esquecer
Homens sempre sós preferem perder
Homens sempre sós são bolas de ténis no ar
Muito abatidos saltam e acabam por enganar
Homens sempre sós nunca conseguem casar →
9.
SALIVA
Eu quero casar contigo amanhã
Abre os olhos vem comigo, diz: Parar
Vamos gastar muita saliva
Mergulhar e ver-te flutuar
Eu quero ver-te a afundar
Para depois te salvar
Eu quero lutar contigo devagar
Da-me os braços vem comigo expirar
Vamos selar com a nossa saliva
Pensar que fosses tu também amiga
E vou usar a tua saliva
Poupá-la da ma língua da intriga
Eu quero ver-te a afundar
e vou tentar-te salvar
Vamos gastar muita saliva
Lamber as feridas e limpar o mundo
Quero levar-te a vida
Mergulhar e ver-te ir ao fundo
Vamos gastar muita saliva
Orgulhar-me de ser teu fiel defunto
Quero usar saliva
Selar a carta e mudar de assunto
Ficar a ver-te fumar para depois te apagar
8.
Felizmente que a noite sai
Ainda bem que há névoa por ai →
7.
Asas servem para voar,
Para sonhar, ou para planar
Visitar, espreitar, espiar,
Mil casas do ar. →
6.
Quando o mar tem pés p’ra andar
E as ondas só vêm chatear →
5.
Faz impressão o trabalho que se tem em se ser superficial →
4.
50-60-70-80-90-À HORA
90 à década vamos embora vamos embora! →
3.
Há um lixo novo pra limpar ao nascer
Um grito surdo que tentam calar →
2.
UM DESEJO CHAMADO ELÉCTRICO
Ter uma irmã uma companhia real ou fantasia
Alguém como eu e tão diferente como quem rasga um véu →
1.
O PACIENTE
Receito-lhe o mar e o campo enfim que pare de beber
isso de ver baratas tamanhas e outros insectos a mexer… →
Rui Manuel Reininho Braga (Porto, 28 de Fevereiro de 1955) é um músico português. É vocalista da banda pop-rock GNR (Grupo Novo Rock) e tirou o curso de Cinema da Escola Superior de Teatro e Cinema, em Lisboa.
Grava em 1977, com Jorge Lima Barreto, no projecto Anar Band. Cria ou colabora nos projectos musicais Espelho e Atitudes.
Em 1981 tornou-se vocalista dos GNR, e depois, o seu principal mentor e figura mais destacada. Com os GNR, Rui Reininho criou uma série de canções que são o espelho de uma geração da juventude que cresceu e se tornou adulta a ouvi-los e a admirá-los ao longo de 30 anos: Dunas, Efectivamente, Bellevue, Pós-Modernos, Vídeo Maria, Pronúncia do Norte, Ana Lee ou Morte ao Sol. Efectuou mais de mil espetáculos na Europa, Brasil, EUA, Canadá e Macau. Obteve prémios Jornal Sete, Blitz e Nova Era.
Produziu discos dos artistas: Manuela Moura Guedes, Mler Ife Dada, Três Tristes Tigres e Spray.
É autor dos livros Sífilis versus Bilitis pela ”’& etc”’ e Líricas Come on & Ana, publicado pela Palavra, onde reúne poemas e letras de canções. Sobre as letras dos GNR, há duas publicações, a biografia dos GNR Afectivamente (Assírio & Alvim) e o livro As letras como poesia (Objecto Cardíaco e Afrontamento) de Vitorino Almeida Ventura.
Em 2005 foi agraciado com a Medalha de Mérito Cultural do Estado Português.
Em 2008 lançou o seu primeiro álbum a solo Companhia das Índias.
Tem colaborado assiduidamente com o músico Armando Teixeira em várias compilações e num longa duração a editar em breve.
Colaborou com os semanários Expresso, Mais Semanário e GQ, na revista Net Parque 98 e no Jornal de Notícias. Trabalhou como actor e criou música para teatro e cinema. Lecionou a disciplina de Música de Cinema na Universidade Moderna de Lisboa e a disciplina de Som e Imagem na Universidade Católica do Porto. É sócio activo do movimento rotário.
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