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Sérgio Ninguém (1976)

Sérgio Ninguém (1976)

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6.
por vezes
ouço a voz do barro
violenta e terrível
na manobra da
terra mole nas mãos gastas 

5.
Ler o manuscrito todo para trás
e compreender tudo para a frente.
Como se parar a luz indecisa fosse possível.

O sofrimento sem relógio,
toca com a luz
na ferida da pedra.

A pedra chora o fogo da vida ao sol.
Ele espera que a ferida cure à sombra.

in o pescoço na navalha, Eufeme Poesia, novembro 2019, pág. 55

4.
à noite penso no silêncio
em bocados de musgo
que não falam —
permaneces num vazio estreito —
e tu. também não falas
mas espreitas o silêncio
que eu olho atentamente.

não se espera pelo silêncio —
procura-se por ele. 

3.
à noite
do minério desabitado
vinham morcegos
à casa do Gavião
jantar os insectos
que cercavam a luz fraca
do candeeiro exterior.

2.
fragmentos dispersos
na mesa do poeta:
uma Figueira com um pneu,
a gaiola vazia, e
fiteiras para os enxertos.


1.
os rochedos falaram
os pássaros fugiram
e as nozes
trazem luz no interior.

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