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Sophia de Mello Breyner Andresen (1919-2004)

Sophia de Mello Breyner Andresen (1919-2004)

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A FONTE

Com voz nascente a fonte nos convida
A renascermos incessantemente
Na luz do antigo Sol nu e recente
E no sussurro da noite primitiva

in 11 POEMAS, movimento poesia, distribuições movimento, lda., Lisboa, Maio de 1971

6.
25 DE ABRIL

Esta é a madrugada que eu esperava
o dia inicial inteiro e limpo
Onde emergimos da noite e do silêncio
E livres habitamos a substância do tempo

In Obra Poética III, Editorial Caminho, 2.º edição, página 195

5.
SOROR MARIANA – BEJA

Cortaram os trigos. Agora
A minha solidão vê-se melhor

In Obra Poética III, Editorial Caminho, 2.º edição, página 183

4.
A PEQUENA ESTÁTUA

Presença ritual e tutelar
Companheira da sombra desenho do silêncio

3.
O VELHO ABUTRE

O velho abutre é sábio e alisa as suas penas
A podridão lhe agrada e seus discursos
Têm o dom de tornar as almas mais pequenas 

2.
INSCRIÇÃO

Quando eu morrer voltarei para buscar
Os instantes que não vivi junto do mar. 

1.
MEIO-DIA

Meio-dia. Um canto da praia sem ninguém.
O sol no alto, fundo, enorme, aberto,
Tornou o céu de todo o deus deserto.
A luz cai implacável como um castigo.
Não há fantasmas nem almas,
E o mar imenso solitário antigo
Parece bater palmas.

In Obra Poética I, Editorial Caminho, 4.º edição, página 19

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