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Casa do Brasileiro

Casa do Brasileiro

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ESCRITORES como Camilo ou Júlio Dinis reproduziam na literatura a velha tendência de, através da crítica do gosto, marcarem distâncias sociais face à ascensão de novas elites. Neste caso, tratava‑se da figura do “brasileiro” rico de torna viagem, sem a ascendência aristocrática e o “berço” das boas famílias e das boas casas que não tinham palmeiras nos jardins.

Não interessa aqui saber qual foi a receita que misturou as origens arquitectónicas eruditas e quais são elas. No entanto, Camilo não se poupava no palavreado ridicularizador quando escrevia a propósito de uma destas casas:

… cor de gema de ovo, com terraço no tecto para quatro estátuas simbólicas das estações do ano, e dois cães de bronze, sobre as ombreiras do portão de ferro, com as armas fundidas, de saliências arrogantes, entre os dois molossos de dentaduras anavalhadas, minazes, como todos os bichos da heráldica.[1]

Por ironia do destino, muitas destas casas estão hoje classificadas como património e mesmo museificadas. Já então eram casas à beira da estrada e lá continuam.

SOBRE O AUTOR: Álvaro Domingues (Melgaço, 1959) é geógrafo e professor na Faculdade de Arquitectura da Universidade do Porto, onde também é investigador no CEAU-Centro de Estudos de Arquitectura e Urbanismo. É autor de A Rua da EstradaVida no Campo e Volta a Portugal. Colabora com o Correio do Porto desde janeiro de 2015.


[1] Camilo CASTELO BRANCO, Eusébio Macário, Porto, Chardon, s/d. (7.ª ed.), p. 50, citado por Miguel Monteiro in www.museu-emigrantes.org/publico_privado.pdf.

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