O EXÓTICO é um desejo; uma máquina de sedução; um domínio geo-semântico que designa um território imenso e quente, desconfinado, longínquo e incerto onde existem coisas estereotipadas, espécie de adereços e ambiências como o cheiro das especiarias, as trovoadas tropicais, as araras, as odaliscas, as palmeiras, os batuques, os camelos, e as pirâmides, por exemplo. O exotismo alimenta-se da nostalgia, do espaço e do tempo, como memória de uma idade de ouro em paragens remotas e tempos perdidos.
Depois de Napoleão ter regressado a França após a Batalha das Pirâmides e se terem difundido as histórias prodigiosas da civilização do Nilo,[1] não parou mais o fascínio misterioso dos europeus pelo Egipto dos faraós, das esfinges, dos obeliscos, dos impérios e das Pirâmides de Gizé. Até hoje.
Desde a pirâmide do Louvre atulhado de múmias, à do hotel Pyramide de Nuremberga, à do Luxor em Las Vegas, à do Ryugyŏng em Pyongyang…, às pirâmides da Rua da Estrada, nada escapa a estes universalismos contemporâneos. Contrariamente à cidade patrimonializada que tem excesso de passado, a Rua da Estrada tem excesso de presente. No entanto, quem achar as pirâmides demasiado exóticas ou muito hieroglificamente estranhas, tem a Rota do Românico com seus templos, cristandades e granitos sem espelhos. Não tem que enganar, é seguir as setas.
SOBRE O AUTOR: Álvaro Domingues (Melgaço, 1959) é geógrafo e professor na Faculdade de Arquitectura da Universidade do Porto, onde também é investigador no CEAU-Centro de Estudos de Arquitectura e Urbanismo. É autor de A Rua da Estrada, Vida no Campo e Volta a Portugal. Colabora com o Correio do Porto desde janeiro de 2015.
[1] Commission des Sciences et Arts d’Égypte (1809), Description de L’Egypte, ou recueil des observations et des recherches qui ont été faites en Egypte pendant l’expédition de l’armée française publié par les ordres de sa majesté l’Empereur Napoléon le Grand, Imprimerie Impériale, Paris.
Vivant Denon (1802), Voyage dans la basse et la haute Egypt, pendant les campagnes du Général Bonapart, Imprimerie de P. Didot L’Aine, Louvre, Paris.