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Rua da Estrada cosmopolita em fase de montagem

Rua da Estrada cosmopolita em fase de montagem

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MCLUHAN, o mesmo autor de obras tão fundamentais como a Galáxia de Gutenberg (1951), o Meio é a Mensagem (1967), ou A Aldeia Global (1989), escreveu há quase 50 anos que “a cidade já não existe senão como um fantasma cultural para turistas. Qualquer restaurante de auto-estrada com o seu aparelho de televisão, jornais e revistas, é tão cosmopolita como Nova YorK ou Paris”.[1]

Não sabia ainda McLuhan (mas desconfiava…) que iríamos ter telefones móveis, internet, correio electrónico, TV digital e outras variedades de sistemas sócio-técnicos de suporte de mobilidade de pessoas, bens, informação, energia, dinheiro, boatos, etc. e outra parafernália nova que todos os dias se inventa e que vai expandindo os sistemas de próteses tecnológicas que nos acrescentam possibilidades e dimensões. A Rua da Estrada, com tudo o que ao longo do seu traçado vai acompanhando o asfalto – redes de energia eléctria, gás, telecomunicações com fios e sem fios, água, saneamento, hotspots, sistemas GPS, aplicações de navegação as mais variadas, drones a controlarem transito e o que mais há que nem se vê, faz parte desse universo tecnológico em expansão.

Quando pensamos que já está tudo inventado e mais ou menos obsoleto, nada como olhar para estas epifanias. A foto ilustra o início da montagem da função cosmopolita como Nova York em modo ambulante para facilitar uma deslocalização rápida se o negócio empatar muito. Ao camião, caixa frigorífica, balcão e avançado, juntar-se-ão as cadeiras e mesas, o grelhador exterior ou o balcão dos gelados. A largueza das bermas facilitará o estacionamento aos clientes e o tempo por ora está formidável. A grande tela branca como a cal deve ser do Kazimir Severinovich Malevich, artista supremo do grau zero absolutamente abstracto, puro sentimento. Também ele pintou uma tela que se chama White on White. Está no Museu de Arte Moderna em Nova York.

Sobre a tela deste branco sobre branco, a geometria serial simples de seis projecções de sombra de hastes de focos de iluminação, revela apenas a passagem fugaz das sombras de um relógio de sol imaginário com horários simultâneos de várias metrópoles globais. O céu cruza-se de fios. Um deles prende-se a um poste por onde baixará uma puxada que levará a energia eléctrica às luminárias que acendem o grande rectângulo branco no negrume da noite.

No restaurante móvel, a electricidade animará o bar, a televisão e quem quiser poderá carregar computadores e smartphones, o mundo a seus pés, temos cachorros especiais, francesinhas, prego no pão e cerveja a rodos.

Se conduzir, não durma.

Por Álvaro Domingues autor de A Rua da Estrada.

[1] Marshall McLuhan (1967), Verbi-Voco-Visual Explorations, Something Else Press, New York, p.29

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