NA Rua da Estrada do Algarve o mundo aparece como é, generosamente disposto à atenção do passante e decorado com muros trabalhados e elaborados gradeamentos ondulantes. Acho bem que se venda areia lavada a este preço que, sendo tão baixo, também não vai ser muito onerado pelo imposto do tal valor acrescentado. Não é justo onerar com impostos quem acrescenta valor ao que quer que seja. Devia era haver um imposto sobre valores subtraídos, coisa muito adequado para banqueiros sem escrúpulos e seus reguladores. Por precaução, é preciso dizer a essa gente que a máquina de lavar areia não lava dinheiro. Adiante, é melhor falar das alfarrobeiras que bordejam a estrada.
Portanto, sobre areia lavada, negócio limpinho, não há problema nenhum; contribui muito para a qualidade do betão e para o turismo porque as casas não caem nem espirram salitre pelas paredes e quando as praias estiverem muito sujas, põe-se uma camada de areia desta. O problema é a exploração do petróleo e do gás natural que usa areia suja misturada sabe-se lá com quê para o fracking, palavra em inglesing para enriquecer o acordo ortográfico.
Está o Algarve em polvorosa por causa das concessões de prospecção e exploração de petróleo que o anterior governo assinou com privados, gente que, como se sabe, só quer a felicidade do mundo a esguichar para os oleadutos e os gasodutos. O cidadão comum pensava que a soberania ainda existia e que a prospecção dos ditos recursos naturais aumentava a riqueza nacional e, quem sabe, até podia abastecer os depósitos e os sistemas de aquecimento a preços muito abaixo daqueles a que pagamos os combustíveis. Pensa também que os governantes são pessoas de bem e que em todo o caso existem leis e outras pomadas para tratar a gonorreia que atacou a democracia e a ética públicas.
Argumenta-se também que o cheiro a gás e a petróleo vai tornar o ambiente fedorento coisa que espanta os turistas e a brisa marinha. Apesar disso não se devia argumentar os negócios dos petróleos com estas incomodidades. No Dubai e outras arábias e emiratos, terras de muitos óleos, o ambiente vai propício para o turismo e seus negócios em torres que chegam ao céu ou em dispositivos imobiliários como Masdar onde a santíssima fé ambientalista vai à frente da charanga para vender imobiliário a preço que nem vos digo e é escusado procurarem no OLX. Suprema treta turística e ambiental para atrair dinheiro. Muito. Nestas palavras, é muito fina a fronteira que lhes separa os sentidos completamente opostos. Procurem-se outras.
O povo algarvio não se passou. O Estado e a democracia é que se transformaram numa algaraviada onde o dinheiro se move como enguia.
E que tal umas concessões para lavar areia?
Por Álvaro Domingues autor de A Rua da Estrada.