1896
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Rua da Estrada das coisas amarelas em frases longas

Rua da Estrada das coisas amarelas em frases longas

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[T]ALVEZ pela paleta das cores, por certas leis da óptica, pelo simbolismo de certas pigmentações combinadas, pelo modo de olhar ou por tudo isso junto, mastigado e ruminado, há coisas que nos fascinam: ouro sobre azul (de cima para baixo no inverso da ordem de enumeração das cores); amarelo quente sobre cinzento neutro (de baixo para cima em idêntica inversão ao já dito).

Ao mesmo tempo, admitindo que a realidade nos pode surpreender presa por três fios que espirram de um molho de ramos secos a fugir pelo canto superior direito do mundo fixado nesta imagem, é difícil não ficar encadeado.

Por outro lado, certas geometrias, proporções, linhas rectas, simetrias, cilindros, colunas, volumes, sombras, ortogonalidades, arbustos milimetricamente alinhados em jardins topiários sobre patamares em degraus – brancos os seixos, os muretes e os troncos -, passadeira central polida a desaguar no pórtico duplamente enquadrado por dois pares de colunas estriadas em diferentes planos e semelhante proporção, fazem lembrar a visão perspéctica que nos impingiram desde a pintura do Renascimento (pelo menos).

Tal regime estético instaura uma forma de ver o mundo e um princípio de ordem. Por essa razão foi difícil não tirar este retrato de frente, pela exacta perpendicular da Rua da Estrada e com um ponto de fuga algures na linha entre o azul do céu e a serra algarvia, ou, noutra perspectiva, numa corrida precipitada a fugir de um automóvel em rota de colisão com o fotógrafo.

Por vezes

apesar do mundo não ser assim tão complicado

é difícil explicar o que de entre a imensidão de coisas

que lhe pertencem

nos fascinam.

Por Álvaro Domingues autor de A Rua da Estrada.

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