PLATÃO, grego de há muito tempo antes e completamente platónico, era o verdadeiro homem da ideia, daquilo que não é apenas do domínio da forma perceptível, do sensorial, do visível…, mas do inteligível, daquilo que podendo ser indizível ou invisível, se pode perceber ainda sem se conseguir exprimir ou visualizar. Através da emoção, escrevia Fernando Pessoa, um poema é a projecção de uma ideia em palavras. Assim é quando as ideias tomam forma: afloram, objectivam-se nas suas múltiplas possibilidades de expressão mesmo quando estão em saldo.
Quando o cérebro está muito ventilado em demasia e os neurónios ao vento a abanar, as ideias nem se percebem nem se vêem: no tengo ni idea, dir-se-ia em espanhol enfático, uma espécie de desconhecimento total que pode não chegar a ser idiotice mas com ela se confundir com facilidade. Por isso é tão importante que haja ideias e se estiverem em saldo, melhor é para todos; para quem vende, porque escoa o produto, poupa no armazenamento de ideias fora de moda e encontra meios para investir numa nova gama; para quem compra, porque lhe sai por bom preço e pode comprar um alqueire delas.
Bom negócio para políticos em campanha, para grande alegria dos seus assessores de imprensa e entretenimento dos eleitores ausentes, anestesiados e alheados de tanto ouvir mais do mesmo pela forma e pelas palavras habituais. Queremos ideias novas. É andar depressa enquanto há; é comprar, freguês!
Álvaro Domingues (Melgaço, 1959) é geógrafo e professor na Faculdade de Arquitectura da Universidade do Porto, onde também é investigador no CEAU-Centro de Estudos de Arquitectura e Urbanismo. É autor de A Rua da Estrada, Vida no Campo e Volta a Portugal. Colabora com o Correio do Porto desde janeiro de 2015.
Publicado originalmente em 1 de outubro de 2015