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Rua da Estrada das terras viciosas

Rua da Estrada das terras viciosas

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NOS idos de 1723, Bernard Mandeville escrevia a sua Fábula das Abelhas, ou de como os vícios privados se podiam transformar em públicas virtudes, chegando a questionar como é que uma nação poderia ser próspera e gloriosa se apenas fosse bondosa e atinada. No Século das Luzes, luminárias tão diversas como David Hume, Jeremy Bentham ou Adam Smith, embrulharam-se nestes meandros sobre o luxo, a moral, os bons e os maus costumes, ou a riqueza das nações. Completando o ramalhete, o Marques de Sade trataria do assunto da forma mais radical, com e sem a dança do varão aqui pintada, cerveja ou martini.

O vício existe como expressão das paixões individuais que só serão perniciosas se a sociedade não souber domesticá-las. É melhor pensar que os vícios e as paixões pré-existem às palavras que lhes dão os nomes e desistir de moralismos a mais porque é de humanos que estamos a falar. Contudo, muitas alminhas pensam que os velhos e os novos vícios só existem antes do fim das obras de moralização da sociedade – que essas alminhas muito pregam – e que depois dessas boas obras fica tudo resolvido. Não fica; as obras são intermináveis.

Os vícios escondem-se no escuro, na noite. Há que dissimular, criar códigos e rituais de conduta para que a sociedade exista no seu jogo diplomático de fazer com que os vícios tenham a medida justa da felicidade para o maior número.

SOBRE O AUTOR: Álvaro Domingues (Melgaço, 1959) é geógrafo e professor na Faculdade de Arquitectura da Universidade do Porto, onde também é investigador no CEAU-Centro de Estudos de Arquitectura e Urbanismo. É autor de A Rua da EstradaVida no Campo e Volta a Portugal.

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