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Rua da Estrada de Atenas

Rua da Estrada de Atenas

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ANDAVAM os antepassados da Angela Merkel nas cavernas por entre ursos e outras barbaridades, quando Péricles edificava Atenas antes das guerras do Peloponeso.  Era assim o mundo, aos encontrões, como sempre.

Depois de edificar a Acrópole verificou-se que custava muito lá subir e muito ventosa. De íngreme que era e de caminhos mal empedrados, as quadrigas patinavam e viravam-se de rodas e pernas para cima. Então, depois de muitos séculos prodigiosos, conseguiu-se finalmente domesticar os cavalos de uma maneira diferente de modo a que coubessem às dezenas e às centenas nos motores dos automóveis, azuis na sua maior parte. Com pneus de borracha e piso de asfalto, acabou-se com a chinfrineira das cavalgaduras, as nuvens de poeira e o lamaçal quando chovia. E assim a cidade se foi desprendendo da Acrópole, transbordando as muralhas por centenas de estádios de ruas e estradas. De tantos templos, estátuas, bronzes, teatros, mármores e outros luxos… faliu.

Por isso estão tão parados os negócios na Rua da Estrada, οδικό δρόμο: estabelecimentos fechados, espaços de publicidade que ninguém compra, pneus japoneses, alemães e franceses à espera de quem os leve…, uma pasmaceira. Terá que vir Zeus outra vez disfarçado de boi, raptar a Europa e levá-la para Creta a ver se fica menos cretina.

SOBRE O AUTOR: Álvaro Domingues (Melgaço, 1959) é geógrafo e professor na Faculdade de Arquitectura da Universidade do Porto, onde também é investigador no CEAU-Centro de Estudos de Arquitectura e Urbanismo. É autor de A Rua da EstradaVida no Campo e Volta a Portugal.

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1 COMENTÁRIO

  1. Carissimo Álvaro Domingues
    Foi bom seguir a sua RUA DA ESTRADA. E assim cheguei a Atenas!
    Quando quer voltar à SPESXVIII?
    Abraço
    Maria Helena Carvalho dos Santos

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