A CNA-FITA, a maior e mais importante associação italiana de empresas de transporte rodoviário, em colaboração com a comuna de Bolonha, lançou um concurso de arte pública para homenagear os camionistas numa rotunda da Via Emilia, fundamentalíssima estrada do tempo dos romanos quando decidiram colonizar a Planície Padana e animar o tráfego de gente, escravos e mercadorias.
A obra ganhadora foi este colosso alto e espaçoso – dez metros de altura com um verdadeiro camião DAF de há 20 anos às costas. Obra poderosa com maior leveza que os putos derreados com as mochilas a caminho da escola.
O seu criador, o artista Andrea Capucci, diz que “na realidade, o Gigante da Estrada é o homem; é ele que transporta o camião às costas, caminhando, como metáfora existencial da viagem e do trabalho. Trata-se de uma homenagem ao homem e à sua capacidade para inventar objectos e formas imprescindíveis para a sua existência e necessidades…”
Mais verdadeiro do que o lendário S. Cristóvão com o Menino Jesus aos ombros, também este gigante carrega o mundo, ou melhor, uma das próteses rolantes que o faz funcionar. Sem motorização, camiões e contentores, regressaríamos ao tempo das bestas a passo, dos camelos de bossa e das mulas caprichosas. Por isso, como rezam os crentes ao padroeiro dos motoristas e dos viajantes,… livrai-nos de acidentes, Senhor, não permitas que nos passe despercebida a beleza do mundo, dirigindo desenfreada e inconscientemente. Dai-nos senso de responsabilidade e consciência profissional, para que dirigindo pelas estradas da terra, acertemos o caminho do céu, etc. Faz sentido.
Álvaro Domingues (Melgaço, 1959) é geógrafo e professor na Faculdade de Arquitectura da Universidade do Porto, onde também é investigador no CEAU-Centro de Estudos de Arquitectura e Urbanismo. É autor de A Rua da Estrada, Vida no Campo e Volta a Portugal. Colabora com o Correio do Porto desde janeiro de 2015.
Publicado originalmente em 10 de setembro de 2015