UMA certa empresa dos negócios da morte faz uma publicidade linda para o Plano Funeral em Vida. “Funeral em Vida” é uma expressão de rara beleza poética e sentido alegre da existência e as imagens da campanha são suaves com flores e pessoas de cabelo branco sorridentes, de mãos dadas, deitadas na relva e assim. Os serviços extra incluem estética do morto, urnas biodegradáveis com terra e sementes de árvores, ou um diamante produzido a partir do carbono contido no cabelo do falecido. Irei pesquisar se existe também alguma promoção para viagens a Vilar do Paraíso ou à Boca do Inferno ou sorteios de carros funerários como fazem as Finanças com as facturas.
Também pensara que isto seria publicidade do género mais em estilo low cost. Não é. Esta instalação é uma das infindáveis expressões de protesto que usa o espaço público da Rua da Estrada para dar sinal de si e para enfatizar que um tal assunto é de morte ou é de morrer, querendo com isso falar de certas facécias muito da vida e das suas coisas inesperadas e estrambólicas.
No lugar de Sela, a Rede Eléctrica de España pretende construir uma linha de alta tensão de 400 kV que passará pelo meio de casas e campos. “Querem-nos enterrar”, dizem os vizinhos galegos, temendo os efeitos de tal molhada electromagnética.
Álvaro Domingues (Melgaço, 1959) é geógrafo e professor na Faculdade de Arquitectura da Universidade do Porto, onde também é investigador no CEAU-Centro de Estudos de Arquitectura e Urbanismo. É autor de A Rua da Estrada, Vida no Campo e Volta a Portugal. Colabora com o Correio do Porto desde janeiro de 2015.
Publicado originalmente em 21 de Agosto de 2015