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Rua da Estrada dos peões na erva

Rua da Estrada dos peões na erva

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PORQUE se pensa demasiadas vezes que a Rua da Estrada tem o pior da rua e o pior da estrada, exacerbam-se os nervos e a pontada no rim e fica-se sem disponibilidade para pensar de outro modo mais suave. Quando o tema é os peões, a coisa fica ainda mais fera – são os atropelamentos, os passeios que não existem, as corridas em diagonal ou a ziguezaguear entre automóveis, as crianças que fogem da mãe e da mão, os cães dos peões que não usam trela (os cães), as passadeiras e os semáforos a interromper a fluidez do rolar do pneu, aquelas alminhas que atravessam a estrada de modo lento e coreografado cuspindo para as jantes, as calças chapinadas de água e óleo das poças, os que apitam por tudo e por nada e os que de fúria se atiram para cima das capotas e pedregulhos para o vidro da frente. É a guerra civil.

A felicidade está no bom caminho, como reza naquele anúncio vermelho a três minutos. Encontrou-se finalmente uma solução. Os peões, sobretudo os que andam de pasta e de perfil, passarão a ter generosos relvados ao longo da via, separados de valetas e águas superficiais ora canalizadas ora não e pronto. Todos perguntam porque é que ninguém se lembrou disto antes.

Talvez porque se enterram muito os tacões na erva e porque os pastos atraem pequenos e grandes ruminantes sem educação, civismo e propósitos que iriam passar o tempo a bater castanholas com os cascos no asfalto a contra-mão atrapalhando o tráfego. Também se diz que os skates e patins, trotinetas e similares não rolam na gramínea.

Talvez porque seria preciso demolir algumas construções daquelas que vão mesmo até ao limite do alcatrão. Faz sentido, mas também depois de tanta pregação clorofílica a clamar por verde natureza ecologia ambiente sustentabilidade e modos suaves de transporte a velocidade reduzida amiga do ambiente sustentável eficiente seguro acessível inclusivo com menor dependência energética e emissão de gases promovendo estilos de vida saudáveis redução dos problemas respiratórios por via da diminuição da poluição atmosférica redução do risco de obesidade e doenças cardiovasculares oncológicas e osteoarticulares com benefícios evidentes na melhoria da saúde física e mental e impacto positivo na diminuição da incapacidade e no aumento do bem‐estar da qualidade de vida e da competitividade urbana inteligente (respire-se que ainda não está tudo[1]), por tudo isso e tendo em conta também a capacitação da comunidade para um futuro resiliente com menos ruído descongestionado estratégico competitivo e integrado com maior coordenação motora promovendo a coesão territorial e a gestão de proximidade do efeito de estufa descarbonatado com menor emissão de partículas e minimizando o risco de diabetes a mineralização dos ossos em idades jovens a regulação do transito intestinal a demência e o absentismo laboral (respirar novamente), não vem mal nenhum que os prédios venham abaixo ou se possa caminhar por dentro deles sem apanhar chuva, vento e insolações. É assombroso.

Por Álvaro Domingues autor de A Rua da Estrada.

[1] Há 143 páginas destas coisas e muitos delírios no “Ciclando – Plano de promoção da Bicicleta e Outros Modos Suaves 2013-2029” http://www.imtt.pt/sites/IMTT/Portugues/Planeamento/
DocumentosdeReferencia/PlanoNacionalBicicleta/
Documents/PPBOMS_Final.pdf

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