GALEGO é galego e por isso rebajas são saldos. Fora isso há aqui uma coisa estranha que não bate certo que é o não saber-se onde está o tal estabelecimento dos saldos de baño anunciados em fundo verde.
Aparentemente, trata-se de uma grande casa kitada (ou duas…três?) que na esquina do rés-do-chão junto à escada para uma das habitações do primeiro andar tem um bar com toldo vermelho chamado Marcos Bar. Percebe-se o negócio pela publicidade pendurada no beiral, pela mesa e cadeiras da esplanada quase a pisar o asfalto e pelas caixas coloridas das bebidas.
Todo o conjunto, em puro granito maciço do Porriño, rematado por cobertura quebrada tipo falsa mansarda em formato capacete com sete janelas corridas a modos de comboio, uma chaminé e escada exterior que liga a varanda com o último piso…, parece puxado por um grande camião com cinco pares de rodados. Coisa potente.
Agora reparo que junto a uma das rodas do segundo par de rodados a contar da frente, se repete uma nesga da cor verde do anúncio de cima. Afinal não há nada estranho; é a parede verde da loja de artigos de baño que ocupa uma parte da planta térrea do edifício-camião-comboio. Pois.
Álvaro Domingues (Melgaço, 1959) é geógrafo e professor na Faculdade de Arquitectura da Universidade do Porto, onde também é investigador no CEAU-Centro de Estudos de Arquitectura e Urbanismo. É autor de A Rua da Estrada, Vida no Campo e Volta a Portugal. Colabora com o Correio do Porto desde janeiro de 2015.
Publicado originalmente em 30 de Agosto de 2015