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Rua da Estrada dos tempos que correm

Rua da Estrada dos tempos que correm

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NÃO ao rouvo” é uma expressão de correctíssima grafia segundo isso a que chamam o acordo ortográfico, que preconiza, entre outras coisas, que as palavras se devem escrever tal como são pronunciadas. Aqui trocam-se os bb pelos vv, como se sabe. O mais difícil de engolir não é isso. O mais difícil de engolir é este assado em que estamos metidos e que está bastante bem ilustrado na instalação exposta à beira da estrada: ainda há pouco tínhamos posses para ter um carrito com tudo a que tem direito, rodas, capota, assentos, motor, travões e o mais que é costume, e agora estamos reduzidos a um assento que se vai desprendendo do chão a caminho daquilo que Marx dizia do capitalismo: tudo o que é sólido se dissolve no ar.

São os mercados e as dívidas soberanas; são os governantes que já foram gestores e os gestores de empresas privadas que já foram públicas ou que se fizeram a voar à volta do Estado e da coisa pública como as borboletas; são os videirinhas a trepar e a fazer pela vida em qualquer geringonça elevatória, partido político, revista do coração ou socialite; são os que não pagam porque sim ou porque se esquecem, é aquela mesquinhez do poder, do dinheiro, da sobranceria, da vaidade de dizer e escrever palavras que não significam nada.

A isto tudo nos habituámos, emigrando, engolindo em seco, rilhando os dentes. Não chegariam aqueles paralelepípedos que desaguam no asfalto para dizer o que nos vai na alma como quem arremessa ossos a cães tinhosos.

Por Álvaro Domingues autor de A Rua da Estrada

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