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Rua da Estrada off-grid

Rua da Estrada off-grid

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HABITUALMENTE, off-grid usa-se no jargão global para designar tecnologias e sistemas de produção e consumo de energia desconectados das redes convencionais como a rede eléctrica. A rede tem também normalmente uma conotação com as redes materiais – cabos, tubos, carris, estradas, etc. – e não com as redes sem fios ou canos, apesar da sua diversidade e banalização. Como se vê, aqui coabitam todas essas famílias, mas a parafernália tecnológica aponta para a preponderância da desconexão. Em todo o caso, dos dois postes de iluminação existentes, de um sai um fio da rede para o edifício e vice-versa; o outro é exclusivamente dependente do painel solar.

Há muito quem pense que funcionar desligado da rede se pode estender a muitos domínios: a água e o saneamento, através de captações e processos depuração e de re-uso; ou o transporte por estrada a favor do helicóptero ligeiro ou do drone expandido e aumentado. Enquanto o tele-transporte não possibilitar que circulemos como anexos de correio electrónico, persistem algumas limitações. Até lá combinaremos as várias soluções para deslocar pessoas, mercadorias, informação, serviços, energia, etc., podendo manter posições híbridas enquanto compradores, produtores, auto-produtores-consumidores, ou distribuidores. Assim são os tempos e os lugares das coisas que mudam. Nada está completamente obsoleto; nada está realmente conseguido; muitas coisas são pontuais e experimentais; amanhã será diferente. Só o ruído aumenta porque a variedade das soluções anima a variedade das discussões. Da discussão nasce a luz, como se sabe. Se for led é melhor porque consome menos.

O que dá muito chinfrim é pensar-se que com tais liberdades de localizar em inumeráveis lugares outras incontáveis espécies de funcionalidades e edifícios, as mudanças nos modos de povoar o mundo vão acelerar. A Rua da Estrada enquanto dispositivo de propagação das redes sócio-técnicas pelo território – um corredor central para circular e dois laterias para conectar tudo o que um edifício precisa para funcionar, casa, hotel, fábrica, o que for – passa a ser uma coisa simples entre muitas.

Os que pensam que a urbanização é um concentrado favorecedor de tudo que seja arrumação, funcionalidade e normatividade, apanharão com tais dissonâncias pelo cerne do aparelho cognitivo que ficarão para todo o sempre perdidos no tempo em que estar off grid era produzir a própria energia que se consumia acarretando toneladas de lenha e carvão, fosse para o fogareiro dos torresmos ou para a fornalha da fábrica. Claro que o preço do carvão ou da lenha era mais barato se muitos consumidores houvesse juntos e se por isso se justificasse mobilizar um carreto enorme puxado por seis juntas de bois. Por outras palavras, a diminuição do atrito por unidade transportada, embaratecia o produto. Eram coisas pesadas e de baixo preço, muito sensíveis aos custos de transacção e transporte.

Ao terceiro minuto deste https://www.youtube.com/watch?v=WFqxbqyiRFA, ficamos a saber que afinal o que conta (como sempre) é ter energia mais barata porque a que pagamos tem um preço que é um escândalo. Pense-se por isso que antes de entrar a charanga estrepitosa do ambiente, do renovável, do sustentável…, é o guito quem mais ordena. O guito é a verdadeira energia renovável: guito que não produz guito mirra e fenece assim como reverdece tudo o que o guito humedece. Versejei.

Por Álvaro Domingues autor de A Rua da Estrada.

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