Na verdade ele
não te sabia montar
contudo talvez te tenha
desejado em segredo
por isso em sonhos ele conhecia
cada superfície ou detalhe teu
o brilho dos raios e dos cromados
o cheiro do óleo e da borracha
os elos negros da corrente
dia após dia
permaneceste fora de vista
de forma que nunca teve necessidade
de te colocar um cadeado ou esconder-te
porque ninguém te podia ver
e embora ele nunca
tenha de facto aprendido a andar de bicicleta
a manter o seu peso redondo
na vertical nos dois pequenos dedos
de água escorregando por debaixo
um dia estava ele bem longe
as mãos no guiador os pés sem tocar no chão
tu podias levá-lo
a qualquer lado
enfim como a chuva
através da chuva
invisível como és
tradução de Jorge Sousa Braga