Pensar no tempo – em tudo o que está para trás.
Pensar no dia de hoje e nas idades que hão-de continuar doravante.
Já imaginaste que tu, tu mesmo, não hás-de continuar?
Já tiveste medo destes escaravelhos da terra?
Já receaste que o futuro nada signifique para ti?
O dia de hoje nada é? o passado sem começo nada é?
Se o futuro nada for, eles certamente nada serão.
Pensar que o Sol se ergueu no Oriente – que os homens e as
mulheres eram ágeis, reais e seres vivos – que tudo vivia,
Pensar que tu e eu nada vimos, sentimos, pensámos, nem
desempenhámos o nosso papel,
Pensar que agora estamos aqui e desempenhamos o nosso papel.
in Folhas de Erva, tradução Maria de Lourdes Guimarães. Lisboa: Círculo de Leitores, 2006, páginas 383-384.