OU podíamos utilizar o lugar comum “odiado por uns, amado por outros”. Certo é que o tipo de letra Comic Sans é por um lado dos mais utilizados tipos de sempre e, garantidamente, o menos consensual. Desenhado na década de 90 por Vincent Connare, com o propósito de ser o tipo de letra utilizado nos balões de ajuda da aplicação Microsoft BOB, cujo objectivo era introduzir a utilização de computadores às audiências mais jovens, Comic Sans deveria, por isso, ser jovial e descomprometido. Outro requisito de design era estar em linha com os balões de fala ao estilo banda desenhada, presentes na Microsoft BOB.
Connare baseou-se então no estilo tipográfico das tiras de banda desenhada. Até aqui tudo bem, e a fonte Comic Sans MS, foi lançada em 1994, suplantando largamente a vida de BOB, que foi descontinuado no início de 1995. Considerada uma “casual script” e, por isso, legitimada para um tom e audiência infantil e informal, o tipo de letra encaixa na categoria Sans Serif e está instalada por “default” na maioria dos computadores, quer em sistemas Windows, quer Mac OS.
O fácil acesso é apontado como uma das razões para o sucesso da fonte, e pelo seu excesso de uso. Se por um lado é perfeitamente aceitável seu uso em convites de festas de aniversário para crianças, ou até trabalhos escolares de 1º ciclo, o caso começa a mudar de figura quando a encontramos na ementa de um restaurante concorrente a uma estrela Michelin ou decidimos utiliza-la no nosso CV.
Comic Sans é protagonista de histórias incríveis, tal é o seu grau de popularidade. De dias nacionais, como acontece na Holanda na primeira sexta feira de Julho, quando todas as empresas aderentes ao movimento alteram a fonte do seu website para Comic Sans, ou movimentos para banir o uso da fonte por parte do New Democratic Party nos Estados Unidos. Mas aquilo que mais notável se pode atribuir a este tipo de letra é o grau de leitura por parte de quem sofre de dislexia.
Errol Morris, ensaísta do New York Times, defende que Comic Sans tem o poder de tornar a sua mensagem menos credível para a sua audiência, quando comparado com tipos de letra como Helvetica ou Baskerville, entre outras. Contudo, se tivermos por base o argumento da British Dyslexia Association, o tipo de letra Comic Sans, pelo seu desenho irregular facilita, e torna possível a assimilação da mensagem aos disléxicos, por claramente distinguir um “p” de um “q”, em vez de os espelhar, por permitir a distinção entre “rn” e “m” entre outros atributos contra-regra do design tipográfico. Este é provavelmente o mais nobre argumento, embora que ao acaso, da fonte de Connare, que em 1994 desenhou um tipo de letra para suporte técnico de uma aplicação.
Em jeito de piada, podemos acabar com desabafo que a utilização da Comic Sans MS se deve mais à quantidade de pessoas com dislexia, do que à simples falta de noção ou gosto tipográfico 🙂
P.S. Sim, é verdade. Eu também utilizei Comic Sans MS em trabalhos escolares. Recordo até um trabalho sobre os U2 para a disciplina de Inglês no 7º ano, salvo erro. Não tenho a desculpa da dislexia, por isso morro um bocadinho por dentro sempre que me recordo do feito, mas não o consigo omitir.
Por Tiago Pinto